PROFISSÃO DE MUSEÓLOGO(A): 41 anos de regulamentação formal

Em 2025, a profissão de museólogo(a) no Brasil completa 41 anos de regulamentação formal (Lei nº 7.287/84). Quatro décadas depois, esse marco legal revela tanto a força simbólica do reconhecimento de um campo essencial à memória, à identidade e à imaginação social do país, quanto as fragilidades persistentes de uma profissão que, embora legitimada por lei, ainda luta por condições estruturais e políticas que assegurem sua plena atuação.

De “guardião de objetos” a agente de transformação social, o(a) museólogo(a) vem ampliando radicalmente o sentido de seu trabalho passando a questionar narrativas hegemônicas, aproximando os museus de suas comunidades e compreendendo o patrimônio como campo de disputa simbólica e política. Mas a profissão não se sustenta apenas na potência de suas ideias…

A prática cotidiana ainda se confronta com a precarização institucional e com a pouca presença de pessoas museólogas em espaços decisórios, o que fragiliza a representatividade da profissão e a efetividade de sua atuação no campo. Além disso, muitos museus ainda operam com orçamentos insuficientes, estruturas precárias e equipes reduzidas, o que compromete a continuidade e a qualidade de suas ações.

A baixa remuneração e a falta de concursos públicos ainda revelam um cenário de desvalorização persistente, que compromete tanto a qualidade técnica quanto o papel social dos museus. Somam-se a isso os desafios éticos e políticos de um tempo em que o revisionismo histórico e a intolerância cultural tentam reverter avanços na luta por representatividade e inclusão.

Diante disso, o exercício da museologia crítica exige resistência, argumentação qualificada e alianças interdisciplinares. O futuro da profissão depende, portanto, de uma articulação entre técnica, ética e ação política. A incorporação de tecnologias digitais deve ser compreendida não apenas como modernização, mas como estratégias de democratização e de acessibilidade. Da mesma forma, o compromisso com as agendas Ambiental, Social e de Governança (ASG) e com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) reafirma o papel dos museus como espaços de reflexão, educação e mobilização frente à crise climática e social.

Celebrar 41 anos de regulamentação é reconhecer uma trajetória marcada por conquistas simbólicas e por persistentes assimetrias. O desafio que se impõe é garantir que o futuro da museologia brasileira não seja apenas tecnicamente eficiente, mas eticamente comprometido, socialmente transformador, verdadeiramente inclusivo e ambientalmente responsável.

Carla Grião
Presidente do COREM 4ª Região (Corem 381-I)